Letícia Matos
Tubarão
O bloqueio de estradas por caminhoneiros começou a afetar a região. Ontem, com a interrupção total da BR-101 na cidade de Três Cachoeiras, no litoral norte do Rio Grande do Sul, várias transportadoras da Associação dos Municípios da Região de Laguna (Amurel), que utilizam a via como rota, começaram a sentir o efeito da manifestação.
A rodovia é a principal ligação do Rio Grande do Sul com o centro do país. O presidente do Sindicato dos Transportadores da Amurel, Beto Lima, explica que materiais como gasolina, óleo diesel, cimento, carvão, tecidos, adubo, arroz e muitos outros vêm do estado gaúcho para a região por meio da rodovia federal.
“Enquanto a situação estava concentrada no oeste, estávamos tranquilos. Hoje (ontem), com a paralisação em Três Cachoeiras tudo mudou. Os caminhões com combustíveis, por exemplo, não chegaram”, destaca.
Para ele, a tendência é piorar. “Não temos como levar e nem receber. Já temos caminhões trancados há três dias em Minas Gerais”, ressalta.
No Vale do Braço do Norte a situação também começa a complicar. Lá a preocupação é com a soja, o milho e minerais, utilizados na alimentação dos gados e suínos. Conforme o presidente do Núcleo Regional Sul da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Adir Engel, a perspectiva é que até o final dessa semana faltem os produtos.
“Estamos de mãos atadas. Vamos ter que emprestar alimentos para os criadores ou mesmo racionar. Os fornecedores afirmam que a paralisação não vai se prolongar, mas analiso a situação como uma ‘guerra de nervos’ e eles estão no direito deles”, salienta o presidente.
O que os caminhoneiros querem?
As principais reivindicações são econômicas. Os sindicatos e associações dizem que o aumento no preço dos combustíveis reduz o frete, o valor pago aos caminhoneiros pelo transporte de carga. Atualmente, o caminhoneiro tem que tirar do frete a sua remuneração e o custo do combustível. Assim, se o diesel fica mais caro, a remuneração do caminhoneiro diminui. Conforme os representantes da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), os caminhoneiros pedem três “medidas emergenciais”: a diminuição do preço do óleo diesel, um subsídio para caminhoneiros autônomos comprarem combustível e a renegociação de financiamento dos caminhões. Sindicatos estaduais também pedem a criação de um tabela única de preços do frete. Hoje, o valor e a forma de cobrança (por quilometragem ou peso da carga) são definidos de forma diferente nos estados.
A situação no estado
Em Santa Catarina, onde os protestos ocorrem há uma semana, há pelo menos 32 rodovias estaduais e federais com bloqueios de caminhoneiros.
Os atos se concentram, principalmente, no oeste, mas há bloqueios também na serra, no Vale do Itajaí, no sul e no norte.
Conforme os representantes do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados (Sindileito), por causa dos bloqueios a coleta de leite no estado pode ser 100% interrompida. Em Chapecó, 90% dos postos do oeste catarinense estão sem combustível. A maioria dos frigoríficos do estado parou a produção ontem.
Trechos bloqueados
• BR-101, em Araquari
• BR-116, em Mafra, Papanduvas, Lages
• BR-153, em Irani, Concórdia
• BR-158, em Cunha Porã, Palmitos
• BR-163, em Guaraciaba, São José do Cedro, Dionísio Cerqueira, Guarujá do Sul
• BR-280, em Rio Negrinho
• BR-282, em Campos Novos, Irani, Nova Erechim, Maravilha, São Miguel do Oeste
• BR-470, em Pouso Redondo
• SC-135, em Videira, Tangará
• SC-155, em Abelardo Luz
• SC-157, em São Lourenço do Oeste
• SC-160, em Campo Erê
• SC-163, em São Miguel do Oeste
• SC-386, em Iporã do Oeste
• SC-469, em Campo Erê
• SC-480, em Xanxerê, São Domingos
Decisões judiciais
O governo conseguiu ontem as primeiras decisões judiciais que determinam os desbloqueios de rodovias pelos caminhoneiros. Em Santa Catarina, a PRF começou a usar sua tropa de choque para liberar rodovias ocupadas pelo protesto de caminhoneiros. (Leia mais na página 15)
Foto: Juan Todescatt/Divulgação/Notisul.