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A Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI) publicou novas diretrizes para o atendimento de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), reforçando a importância do diagnóstico clínico precoce, de intervenções baseadas em evidências científicas e do cuidado multiprofissional. O documento é considerado um avanço importante para famílias, educadores e profissionais da saúde em todo o país.
As orientações reafirmam o compromisso da entidade com uma abordagem ética, responsável e centrada no desenvolvimento integral da criança, além de alertar contra terapias sem comprovação científica.
Diagnóstico clínico precoce é prioridade
Um dos principais pontos destacados pela SBNI é que o diagnóstico do TEA é essencialmente clínico, baseado na observação do comportamento da criança e em entrevistas detalhadas com pais ou responsáveis, seguindo critérios técnicos bem definidos.
A entidade reforça que não existem exames laboratoriais capazes de confirmar o diagnóstico de autismo. Por isso, identificar sinais precoces é fundamental para iniciar intervenções o quanto antes, aumentando as chances de melhores desfechos no desenvolvimento.
Avaliação multiprofissional e olhar ampliado
As diretrizes indicam que a avaliação deve ser abrangente, considerando o desenvolvimento neuropsicomotor, o histórico gestacional, o ambiente familiar e social da criança.
Ferramentas de rastreio como M-CHAT, CARS-2, ADI-R e ADOS-2 são apontadas como importantes aliadas, mas sempre como complemento à avaliação clínica realizada por especialistas.
Intervenção precoce e terapias com evidência científica
Outro destaque do documento é a defesa de terapias baseadas em evidências, especialmente a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e seus modelos naturalísticos, apontados como as abordagens com maior eficácia comprovada.
A SBNI ressalta que a intervenção precoce é determinante para a qualidade de vida da pessoa com TEA. Mesmo sem um diagnóstico fechado, a recomendação é iniciar as terapias o mais cedo possível, com planos individualizados, acompanhamento multiprofissional e participação ativa de pais e cuidadores.
Alerta contra terapias sem comprovação
Em um movimento de proteção às famílias, a SBNI faz um alerta contundente contra práticas que não possuem respaldo científico. Entre elas estão dietas restritivas, ozonioterapia, uso indiscriminado de suplementos, canabidiol sem indicação médica específica e terapias com células-tronco.
Segundo a entidade, essas intervenções podem gerar riscos físicos, emocionais e financeiros, sem benefícios comprovados.
Medicamentos tratam comorbidades, não o TEA
As diretrizes esclarecem ainda que não existe medicação capaz de tratar os sintomas centrais do TEA. No entanto, medicamentos podem ser indicados para o manejo de comorbidades associadas, como irritabilidade, TDAH, distúrbios do sono e ansiedade, sempre com acompanhamento médico rigoroso.
Educação inclusiva e o papel da escola
Para a Renata Haddad, pedagoga, neuroeducadora e especialista em educação inclusiva, as novas diretrizes representam um chamado à ação.
— É fundamental que profissionais da educação e da saúde estejam atualizados sobre o TEA. Essas recomendações auxiliam no diagnóstico e também na implementação de práticas pedagógicas inclusivas e eficazes, garantindo que cada criança tenha oportunidade de se desenvolver plenamente — afirma.
Renata, que é diretora clínica e idealizadora da Pluralità, destaca ainda a importância de atenção a fatores externos, como vulnerabilidade social e uso excessivo de telas, que podem confundir sinais do TEA e levar a diagnósticos equivocados.
Caminho mais claro para famílias e profissionais
Com a publicação das novas diretrizes, a SBNI busca alinhar ciência, prática clínica e educação, contribuindo para um atendimento mais humano, estruturado e eficaz. O objetivo, segundo a entidade, é assegurar que cada criança com TEA tenha acesso ao suporte adequado para desenvolver todo o seu potencial.
