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Até Onde a Mídia e a Política Devem Entrar em Campo? O Caso Pedro e o Poder das Palavras no Futebol 

Você já parou para pensar que, no futebol, o jogo muitas vezes começa muito antes do apito inicial?

Uma palavra mal colocada, um vazamento inesperado ou uma opinião fora de hora pode afetar o rendimento de um jogador, mudar o clima do vestiário e até influenciar o placar. Você sente esse eco, não é? É sobre isso que vamos conversar: o quanto nossa voz, especialmente quando amplificada por mídia ou política interna, pode reverberar no campo.

O futebol é emoção pura. Mas quando essa emoção é manipulada por forças externas ao jogo, quando palavras se transformam em armas psicológicas, quando vazamentos viram manchetes e manchetes viram pesadelos, estamos diante de um fenômeno que vai muito além dos 90 minutos de bola rolando.

Hoje trago um caso recente que mostra o quanto a palavra tem peso real, mensurável, estatisticamente visível. Depois, te levo por outras histórias que revelam esse fenômeno dentro do futebol, puxando o fio entre emoção e consequência concreta, entre o que se fala nos bastidores e o que acontece dentro das quatro linhas.

A sequência do caso Pedro: anatomia de uma queda e uma redenção

Em julho de 2025, quando informações internas do Flamengo começaram a vazar para a imprensa, um membro do departamento de futebol declarou ao jornalista Mauro Cezar Pereira que aceitaria vender Pedro por 15 milhões de euros (cerca de R$ 95 milhões). Não era mais bastidores sussurrados em corredores, era manchete de primeira página, era o tipo de notícia que chega ao elenco antes mesmo do café da manhã.

Bap manifestou desconforto ao saber que um membro do Departamento de Futebol teria sugerido a venda do atacante por 15 milhões de euros, sem consulta prévia ao presidente. O impacto no próprio Pedro foi devastador. O atacante afirmou aos companheiros que a notícia de que o Flamengo aceitaria 15 milhões de euros em um eventual negócio “mexeu com seu psicológico”.

O comportamento de Pedro mudou drasticamente. Filipe Luís, técnico do Flamengo, não poupou palavras numa coletiva que ficou marcada, criticando publicamente a postura do atacante. O clima no vestiário ficou tenso, e Pedro precisou tomar uma atitude que mudaria toda a narrativa.

Pedro se reuniu com os jogadores do elenco e deu sua versão para o comportamento que havia sido criticado por Filipe Luís. Foi um momento de reconciliação interna, onde o atacante explicou como o vazamento havia afetado seu estado emocional.

A redenção veio no clássico contra o Fluminense. Pedro decidiu e o Flamengo venceu o Fluminense por 1 a 0, no Maracanã, pela 15ª rodada do Brasileirão. O gol era muito mais que três pontos, muito mais que uma vitória no clássico. Era redenção pública, era a palavra de volta, mas dessa vez expressa nos pés, nos olhos, na entrega total em campo.

Quando a medicina vira tribunal: o caso De La Cruz

E se você pensa que o caso Pedro foi isolado, prepare-se para entender como essa dinâmica destrutiva se repetiu apenas semanas depois, desta vez envolvendo questões médicas que jamais deveriam ter saído do ambiente profissional adequado.

José Luiz Runco, teve uma mensagem privada vazada onde fazia críticas severas às condições físicas de De La Cruz. O vazamento gerou uma crise institucional gigantesca que envolveu múltiplas esferas do clube.

Conforme apuração da CNN, De la Cruz ficou incomodado com o vazamento da mensagem de Runco. Pessoas próximas ao jogador não descartam a possibilidade de uma saída ou até de uma rescisão amigável, principalmente após as chegadas de Jorginho e Saúl, que disputam posição no meio-campo.

O impacto foi tão severo que atingiu não apenas o jogador em questão, mas todo o ambiente interno do clube. Questões médicas confidenciais se transformaram em material de fofoca esportiva, demonstrando como informações sigilosas podem ser transformadas em armas de destruição da confiança interna.

A Máfia do Apito: quando palavras reescrevem a história

Mas se você quer entender o poder devastador das palavras no futebol brasileiro, precisa voltar a 2005 e revisitar o caso que mudou para sempre como enxergamos a integridade do nosso esporte.

A “Máfia do Apito” foi o nome dado pela imprensa brasileira a um esquema de manipulação de resultados futebolísticos, denunciado em uma reportagem do jornalista André Rizek, em matéria de capa da edição de 23 de setembro de 2005 da revista Veja.

A investigação começou com um áudio de um árbitro, Paulo José Danelon, dando justificativas ao empresário Nagib Fayad, chefe do esquema, ele havia sido pago para garantir a vitória do Santos sobre o Guarani, e não conseguiu. Ele argumentou que fez tudo que podia no jogo, mas não conseguiu garantir o resultado.

O caso envolveu principalmente o árbitro Edilson Pereira de Carvalho, que se tornou o símbolo do escândalo. Com o escândalo, onze jogos do Campeonato Brasileiro de Futebol de 2005, Série A foram anulados.

Luiz Zveiter, presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, procurou os promotores José Reinaldo Guimarães Carneiro e Roberto Porto dois dias depois da prisão de Edílson, no dia 26 de setembro. Esperava receber uma lista detalhada do Ministério Público, contendo quais jogos foram vendidos e quais estariam limpos. A resposta que recebeu o deixou sem reação.

As consequências foram sísmicas para o futebol brasileiro. Jogos foram anulados retroativamente, reputações foram destruídas para sempre, e o próprio Campeonato Brasileiro teve seu resultado alterado. Palavras registradas em gravações se transformaram em evidências judiciais que mudaram a história do futebol nacional.

O poder multiplicador da era digital

Se nos anos 2000 as palavras ainda dependiam de jornais e televisão para ganharem força, hoje vivemos na era da amplificação instantânea e descontrolada. Um print de WhatsApp vira notícia. Uma conversa privada vira polêmica nacional. Um comentário mal interpretado vira crise institucional.

O caso Pedro exemplifica perfeitamente essa nova dinâmica. Uma conversa entre um dirigente e um jornalista se transformou em crise psicológica para um atleta, afetou o rendimento do time e gerou repercussão nacional. Tudo por palavras que jamais deveriam ter saído do contexto original.

A anatomia do poder destrutivo

Mas por que palavras têm tanto poder no universo futebolístico? A resposta está na natureza emocional do esporte e na vulnerabilidade psicológica dos atletas.

Jogadores de futebol, por mais milionários e famosos que sejam, permanecem seres humanos com inseguranças, medos e necessidade de aprovação. O atleta profissional vive numa bolha de pressão constante, onde qualquer palavra que questione sua competência ou seu valor atinge diretamente sua autoestima e, consequentemente, sua performance.

O efeito avalanche

Uma palavra se transforma em notícia. 

A notícia vira debate. 

O debate gera mais polêmica. 

A polêmica atinge o vestiário. 

O vestiário afeta o rendimento. 

O rendimento impacta o resultado. 

É uma cadeia de consequências que começa com uma única palavra mal colocada.

Como vimos no caso Pedro, o vazamento gerou:

  • Abalo psicológico no jogador
  • Crítica pública do técnico
  • Necessidade de reunião interna para explicações
  • Reconciliação através do desempenho em campo

A responsabilidade coletiva

E aqui chegamos ao ponto fundamental desta reflexão: quando falamos sobre o poder das palavras no futebol, não estamos falando apenas de mídia ou dirigentes. Estamos falando de todos nós.

Cada torcedor que compartilha um boato no WhatsApp está alimentando essa máquina. Cada jornalista que publica sem checar fontes está colaborando com o caos. Cada dirigente que vaza informações sigilosas está traindo a confiança do vestiário.

O que fazer com esse poder?

A pergunta não é se as palavras têm poder, elas têm, e isso é inegável pelos casos que apresentamos. A questão é como usar esse poder de forma construtiva.

Para a mídia esportiva

Jornalistas precisam entender que têm nas mãos uma ferramenta de impacto social gigantesco. Verificar fontes não é apenas ética profissional, é responsabilidade social. Contextualizar notícias não é perda de tempo, é contribuição para um ambiente mais saudável.

Para os clubes

Dirigentes que vazam informações internas precisam compreender que estão sabotando seus próprios investimentos. Um jogador abalado psicologicamente não rende em campo. Um vestiário dividido não conquista títulos. Transparência é importante, mas existe diferença entre transparência e exposição desnecessária.

Para nós, torcedores

Somos o elo final desta corrente. Quando compartilhamos boatos, quando amplificamos polêmicas desnecessárias, quando transformamos paixão em ódio, estamos contribuindo para um ambiente tóxico que prejudica aquilo que mais amamos: nosso clube.

O campo como santuário

Porque, no final das contas, o campo deveria ser sagrado. É ali que nossa paixão deveria ser decidida, no suor, na técnica, na estratégia, na emoção pura do jogo. Quando forças externas invadem esse espaço, quando palavras ou política se transformam em armas psicológicas, perdemos um pouco da magia que faz o futebol ser o esporte mais amado do planeta.

Pedro marcou aquele gol contra o Fluminense não apenas com os pés, mas com o coração reconciliado. A Máfia do Apito foi descoberta porque palavras foram registradas e transformadas em evidência, mudando para sempre a história do futebol brasileiro.

Destaque: Tudo volta às palavras. Sempre.

E talvez seja hora de lembrarmos do poder que carregamos a cada frase, a cada post, a cada compartilhamento. Porque no mundo hiperconectado de hoje, todos nós somos mídia. Todos nós temos o poder de construir ou destruir.

A escolha é nossa. E ela começa com uma única palavra.

O futebol nos ensina que as palavras, assim como a magia, podem tanto ferir quanto curar. No vestiário, na coletiva, nas arquibancadas ou nas redes sociais, elas carregam um poder transformador que vai muito além do que imaginamos. Como bem disse Alvo Dumbledore: “Palavras são, na minha não tão humilde opinião, nossa inesgotável fonte de magia. Capazes de ferir e de curar.”

No futebol, essa magia se manifesta a cada palavra que escolhemos usar. A pergunta que fica é: que tipo de magia você vai escolher praticar?

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