Início Colunistas Aos 45 - Karine Mendes Wesley, Roma e o que o Atlético Tubarão perdeu (sem nem perceber)

Wesley, Roma e o que o Atlético Tubarão perdeu (sem nem perceber)

Wesley França. Talvez esse nome ainda não signifique muito para algumas pessoas por aqui, mas pra mim, que sou daqui, que acompanho, que valorizo o futebol de base, ele representa mais do que um jovem lateral vendido para a Europa. Ele representa uma oportunidade que passou pelas mãos do Atlético Tubarão e escapou… como areia fina entre os dedos.

Sim, Wesley foi jogador do Tubarão. E mais: ele começou aqui, com 16 anos, ainda menino, ainda longe de ser o que é hoje. E é justamente por isso que eu quis escrever esse texto, porque às vezes a gente só enxerga valor depois que o mundo inteiro já está aplaudindo.

Fotos: William Lampert/CA Tubarão/ Divulgação Notisul

A trajetória meteórica (que começou aqui)

Wesley nasceu no Maranhão, mas foi criado em Santa Catarina. Ainda muito novo, entrou na base do Atlético Tubarão, onde recebeu uma ajuda de custo simbólica, coisa de R$150 a R$200 por mês. Em 2021, fez cinco jogos como profissional na Copa Santa Catarina. Sem destaque, sem holofote.

Mas havia algo nele que chamava atenção, não técnica, não habilidade refinada, mas vontade.

Depois, foi fazer testes no Flamengo. E ali sim, com estrutura, com espaço, com paciência, Wesley foi crescendo. Primeiro na Copinha, depois no elenco principal, e então veio a titularidade. Junto com ela, vieram os títulos: Libertadores, Copa do Brasil, Supercopa, Carioca.

E agora, em 2025, aos 21 anos, ele foi vendido para a Roma por €25 milhões (valor fixo), com possibilidade de chegar a €30 milhões com bônus. Estamos falando de até R$196 milhões por um jogador que, há poucos anos, o Tubarão ajudava com R$200 por mês.

E o Tubarão? O que ficou?

Nada.

O clube que formou o Wesley, que deu os primeiros minutos profissionais pra ele, não lucrou com a venda. Nenhum percentual de mais-valia, nenhuma cláusula de vitrine. Porque, sejamos sinceros: o Tubarão não acreditou que ele chegaria tão longe.

E veja bem, eu não tô aqui pra julgar. Eu sei das dificuldades. Sei que investir em um jovem é caro, incerto, exige estrutura, paciência e uma visão que vai além do resultado imediato.

Mas também sei que essa história poderia ter sido diferente.

Não é só o Tubarão. Criciúma, Figueirense e outros também erraram.

E se você acha que o caso do Wesley é isolado, está enganado. Ele é só mais um de uma lista de talentos desperdiçados ou ignorados por clubes menores.

Criciúma

Também já perdeu jogadores com potencial. Um exemplo é o Lima, que hoje está consolidado na elite italiana. O Criciúma poderia ter olhado, investido, apostado, mas não olhou.

Figueirense

Tem mais estrutura que o Tubarão, mas rejeitou Wesley três vezes. Três! E olha que ele virou titular do Flamengo logo depois. Isso mostra que, muitas vezes, a régua de avaliação está torta. Procuramos o talento pronto, mas esquecemos de enxergar o que pode ser lapidado.

Outros casos

Bruno Peres, que saiu do Audax e foi parar na Roma.

Willian José, que começou no Grêmio Barueri e brilhou na Real Sociedad.

O roteiro é o mesmo: clubes pequenos que tiveram o jogador nas mãos… e deixaram escapar.

Mas tá, Kah… por que o Tubarão não soube aproveitar?

Porque eu acho, sinceramente, que o Tubarão não está preparado pra identificar talentos como o Wesley.

Talvez ele nem estivesse no seu auge técnico naquele momento, mas o que sempre teve foi raça, entrega, vontade de vencer. E às vezes é disso que se faz um craque (Fala, CR7!).

Ele não era o mais habilidoso, não era o mais brilhante. Mas era o primeiro a chegar no treino, o que mais corria, o que mais suava. O Felipe Luís, multicampeão, já disse:

Citação: “E a gente vê no campo a cultura de treino instaurada, que eles conseguem correr, performar.”

Mas aqui, a régua é outra. A gente espera talento pronto. E se não vem com embalagem de craque, a gente deixa passar.

Faltou olhar com mais tato. Faltou lapidar. Faltou investir.

E quando eu falo investir, não é só dinheiro. É tempo. Energia. Atenção. Estrutura mínima. O Tubarão não tinha (e talvez ainda não tenha) isso. Mas, ainda assim, teve o Wesley nas mãos, e o deixou ir sem nem lutar.

Não dá pra comparar, mas vamos comparar (hehe)

Pra deixar claro o abismo que existe:

Clube Receita Anual Estimada Valor com Wesley Investimento em Base
Flamengo R$ 1,2 bilhão Até R$196 milhões Alto (estrutura completa)
Atlético Tubarão R$ 1 a 3 milhões (2021) R$ 0 Baixíssimo


Claro, é injusto cobrar do Tubarão o que o Flamengo faz.

Mas sabe o que não custa nada? Ver potencial. Acreditar. Oferecer mais do que R$200. Mostrar que o clube quer ficar com o jogador. Que enxerga valor nele.

Porque talvez, se o Tubarão tivesse dado um pouco mais de estrutura, um pouco mais de confiança, Wesley teria pensado duas vezes antes de sair. Talvez ele ficasse. Talvez a história fosse diferente.

A reflexão que fica é…

O Tubarão acertou em abrir espaço pra ele. Foi melhor que o Figueirense, sim.

Mas ainda assim, perdeu a chance de ser protagonista da sua própria história.

Wesley virou craque na Europa.

O Flamengo virou lucro.

E o Tubarão virou coadjuvante na biografia de um craque.

A pergunta que fica é:

Quantos outros “Wesleys” estão passando agora pelos nossos gramados… e a gente nem está vendo?

Se a gente continuar buscando apenas o jogador pronto, a estrela óbvia, o craque lapidado…

vamos continuar perdendo.

Talvez o próximo grande nome do futebol brasileiro esteja aqui, do lado.

Mas só vai brilhar lá fora,

porque aqui dentro, a gente ainda não aprendeu a acreditar antes que o mundo aplauda.

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