Documentos judiciais divulgados na sexta-feira revelam que a Meta encerrou pesquisas internas em 2020 após identificar evidências claras de que o Facebook e o Instagram causavam impactos negativos à saúde mental dos usuários. O material veio à tona por meio de um processo multidistrital nos Estados Unidos que reúne mais de 1.800 queixosos, incluindo pais, escolas e procuradores-gerais.
Projeto foi interrompido após resultados negativos
A iniciativa, chamada internamente de Project Mercury, envolveu uma parceria entre cientistas da empresa e a Nielsen. O estudo analisou os efeitos da desativação das plataformas por uma semana.
Os resultados foram diretos:
usuários que ficaram longe do Facebook relataram menos depressão, ansiedade, solidão e comparação social.
Em vez de aprofundar as pesquisas ou publicar os achados, a Meta teria interrompido o projeto e alegado internamente que os resultados haviam sido “contaminados” por críticas da mídia. Entretanto, comunicações internas mostram que funcionários asseguraram ao então chefe de políticas públicas globais, Nick Clegg, que as conclusões eram sólidas.
Um dos pesquisadores chegou a comparar a decisão de ignorar as evidências ao comportamento da indústria do tabaco ao esconder os malefícios dos cigarros.
Litígio envolve Meta, Google, TikTok e Snapchat
As novas revelações fazem parte de um processo movido pelo escritório de advocacia Motley Rice, que acusa grandes plataformas de ocultarem riscos conhecidos de pais, educadores e jovens.
O caso inclui depoimentos importantes, como o da ex-chefe de segurança e bem-estar do Instagram, Vaishnavi Jayakumar, que disse ter ficado surpresa ao descobrir que, em 2020, a empresa tinha uma “política de 17 infrações” para contas envolvidas em tráfico sexual — usuários poderiam violar as regras 16 vezes antes de sofrer qualquer suspensão.
Priorizando crescimento em vez de segurança
Entre os documentos não lacrados, há acusações de que a Meta:
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projetou recursos de segurança para jovens de forma deliberadamente ineficaz;
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avançou com produtos otimizados para aumentar engajamento adolescente mesmo sabendo que isso expunha jovens a mais conteúdos prejudiciais;
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atrasou iniciativas para impedir que predadores infantis contatassem menores devido a preocupações com impacto no crescimento da plataforma.
Mensagens internas também sugerem que, em 2021, o CEO Mark Zuckerberg indicou que a segurança infantil não era prioridade, afirmando estar mais focado em áreas como o desenvolvimento do metaverso.
Empresa negou irregularidades
Mesmo com pesquisas internas demonstrando relação causal entre uso das plataformas e danos à saúde mental, a Meta declarou ao Congresso norte-americano que não poderia medir o impacto do Instagram em adolescentes.
O porta-voz da empresa, Andy Stone, afirmou no sábado que o Projeto Mercury foi descontinuado por “falhas metodológicas” e reforçou que a Meta tem feito mudanças para proteger jovens. Segundo ele, as medidas de segurança seriam “amplamente eficazes”.
Próximos passos
Uma audiência do caso está marcada para 26 de janeiro, no Tribunal Distrital do Norte da Califórnia. O litígio pode levar à divulgação de novos documentos e pressionar ainda mais as empresas de tecnologia por maior transparência e responsabilidade.
