sexta-feira, 17 outubro , 2025

Por que seu filho pode ter alergia ao leite mesmo com exames negativos

FOTO Freepik Reprodução Notisul

A alimentação infantil nos primeiros anos de vida exige atenção cuidadosa, principalmente quando surgem sintomas recorrentes após a ingestão de certos alimentos. Entre os diagnósticos que mais geram dúvidas entre famílias e profissionais de saúde está a alergia à proteína do leite de vaca (APLV). A perplexidade costuma aumentar quando os exames realizados não confirmam a alergia, mesmo com a persistência de sinais clínicos relevantes.

Essa situação é mais comum do que se imagina, especialmente em casos de reações que não envolvem anticorpos IgE, tipo mais frequentemente avaliado pelos testes laboratoriais convencionais.

Nem toda reação alérgica aparece nos exames

As reações à proteína do leite não são todas iguais. A APLV pode se manifestar de três formas principais: mediada por IgE, não mediada por IgE e mista.

No primeiro caso, os sintomas costumam surgir de forma imediata, dentro de minutos ou até duas horas após o consumo do leite. Essa é a forma de alergia que mais se beneficia dos testes laboratoriais, pois envolve a produção de anticorpos do tipo IgE, que são facilmente detectáveis.

No entanto, muitos bebês apresentam reações mais discretas, que só aparecem horas ou até dias após o contato com o alimento. São os chamados quadros não mediados por IgE. Nessas situações, o organismo reage por mecanismos celulares, e os exames de sangue e testes cutâneos tradicionais não conseguem detectar a alergia. Por isso, um resultado negativo não é suficiente para excluir o diagnóstico.

As manifestações mistas combinam características das duas anteriores, com sintomas imediatos e tardios coexistindo. Isso pode incluir alterações gastrointestinais, respiratórias e cutâneas ao mesmo tempo, o que torna o diagnóstico ainda mais complexo. Nestes casos, é fundamental considerar o histórico clínico completo e, muitas vezes, realizar testes de exclusão orientados por um especialista.

Sintomas clínicos que merecem atenção

Independentemente do tipo de reação, o corpo costuma dar sinais quando há uma incompatibilidade com o leite. Em casos não mediados por IgE, é comum observar:

  • Vômitos tardios
  • Diarreia crônica, com ou sem presença de sangue
  • Prisão de ventre com dor abdominal
  • Cólica intensa e irritabilidade
  • Assaduras persistentes
  • Baixo ganho de peso
  • Falhas no crescimento

Já nas manifestações mistas, esses sintomas podem se combinar com dermatite atópica, refluxo significativo ou até sinais respiratórios. A complexidade das manifestações clínicas é um dos motivos pelos quais o diagnóstico exige mais do que um exame laboratorial. A escuta atenta da história do paciente, o contexto familiar e a resposta clínica à mudança na dieta são ferramentas fundamentais no processo diagnóstico.

Avaliação clínica continua sendo essencial

Embora os exames sejam aliados importantes na prática médica, o diagnóstico de APLV muitas vezes depende da observação direta dos sintomas e da resposta à exclusão do alimento suspeito. É por isso que, diante de uma suspeita persistente, mesmo com exames negativos, o pediatra ou alergista pode propor uma dieta de exclusão por tempo determinado.

Essa abordagem envolve retirar o leite e seus derivados da alimentação da criança (ou da mãe, se o bebê for amamentado exclusivamente) e observar se há melhora dos sintomas. Em seguida, sob orientação médica, é feita a reintrodução controlada para confirmar se os sinais retornam. Esse protocolo, conhecido como teste de provocação oral, é considerado o padrão ouro para confirmar ou descartar a alergia.

Entender essas diferenças pode ajudar os pais a compreender por que, em alguns casos, mesmo com testes negativos, o diagnóstico de APLV ainda é válido. O tipo de reação da condição influencia diretamente tanto na apresentação clínica quanto nas estratégias para confirmação do quadro.

Cuidados durante o processo de exclusão

Durante o período de retirada do leite da dieta, é essencial que a alimentação da criança seja cuidadosamente reavaliada. O leite e seus derivados são fontes importantes de cálcio, proteínas e outros nutrientes. Por isso, a orientação de um nutricionista é indispensável para garantir substituições seguras e evitar deficiências nutricionais.

Nos casos em que a mãe precisa adotar a dieta de exclusão durante a amamentação, o suporte profissional também é fundamental. Essa fase exige atenção não apenas ao conteúdo nutricional, mas também à leitura de rótulos, prevenção de contaminações cruzadas e manutenção de uma alimentação equilibrada.

Não confunda APLV com outras condições

É importante destacar que diversos quadros clínicos podem se assemelhar à APLV, principalmente em bebês. Refluxo fisiológico, intolerância à lactose, gastroenterites virais, parasitoses e outras alergias alimentares podem causar sintomas semelhantes. Por isso, o diagnóstico deve sempre ser feito por profissionais especializados, com base em uma avaliação cuidadosa e individualizada.

A tentação de restringir alimentos por conta própria é compreensível, mas pode trazer riscos nutricionais e mascarar outras causas do problema. A investigação adequada evita erros diagnósticos e tratamentos desnecessários.

Perspectivas futuras

Apesar dos desafios, é importante lembrar que muitas crianças com APLV desenvolvem tolerância ao leite com o passar dos anos, especialmente nos casos não mediados por IgE. O acompanhamento regular com o pediatra e o alergista permite avaliar esse processo e fazer testes de reintrodução quando apropriado.

Enquanto isso, o mais importante é garantir o conforto, o crescimento saudável e o bem-estar da criança, por meio de uma abordagem informada, acolhedora e baseada em evidências.

Referências:

ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DE VACA. Tipos de reações e sintomas APLV. Disponível em: https://www.alergiaaoleitedevaca.com.br/articles/details/tipos-de-reacoes-e-sintomas-aplv.

BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Entenda as diferenças entre alergia e intolerância alimentar. Publicado em 19 set. 2022. Atualizado em 03 nov. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/setembro/entenda-as-diferencas-entre-alergia-e-intolerancia-alimentar.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALERGIA E IMUNOLOGIA. Diagnóstico e manejo da alergia alimentar: revisão. Revista Brasileira de Alergia e Imunopatologia, São Paulo, v. 35, n. 6, 2012. Disponível em: http://aaai-asbai.org.br/imageBank/pdf/v35n6a03.pdf.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALERGIA E IMUNOLOGIA. Alergia à proteína do leite de vaca em lactentes: atualização do documento conjunto SBP e ASBAI. Revista Brasileira de Alergia e Imunopatologia, São Paulo, v. 2, n. 1, 2018. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/aaai_vol_2_n_01_a05__7_.pdf.

BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas da alergia à proteína do leite de vaca. Brasília: CONITEC, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/consultas/relatorios/2022/20220427_pcdt_aplv_cp_24.pdf.

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