A combinação de maré alta, lua cheia e ventos fortes, intensificada pelos efeitos das mudanças climáticas, tem causado destruição em diversas regiões costeiras de Santa Catarina. Até o momento, sete municípios catarinenses decretaram situação de emergência neste ano devido aos danos provocados por esses fenômenos.
De acordo com a Defesa Civil de Santa Catarina, os decretos foram emitidos por Passo de Torres, Balneário Barra do Sul, São Francisco do Sul, Garopaba, Itapoá e Barra Velha. Na terça-feira (7), Itapema também publicou o documento.
A capital, Florianópolis, avalia adotar a mesma medida após o avanço do mar destruir parte da orla da Praia dos Ingleses, onde 12 imóveis foram atingidos e cerca de 300 metros de alargamento da praia, finalizados em 2023, foram levados pela força das ondas.
Fenômenos naturais intensificados pelas mudanças climáticas
Segundo Frederico Rudorff, gerente de monitoramento e alerta da Defesa Civil, a conjunção de fatores naturais explica o cenário de destruição no litoral catarinense.
“Nós temos maré alta associada à lua cheia, o que amplifica a altura da maré. O vento sul provoca o empilhamento da água do mar no litoral e, somado ao mar agitado, com ondas acima de 1,5 metro, forma-se um cenário de ressaca e erosão costeira”, detalhou Rudorff.
Especialistas apontam que a intensificação desses fenômenos está diretamente ligada às mudanças climáticas e ao avanço desordenado da urbanização sobre áreas sensíveis.
‘Não são obras de engenharia que vão resolver’, diz pesquisador
Para Rodrigo Rodrigues de Freitas, professor da Unisul e integrante do Núcleo de Pesquisas em Educação e Conservação da Biodiversidade, os impactos são agravados pela falta de preservação dos ecossistemas costeiros.
“Manguezais, dunas e restingas são barreiras naturais que amortecem o avanço do mar. Quando ocupamos essas áreas com infraestrutura urbana, eliminamos essa proteção natural. Obras de engenharia isoladas não resolverão o problema”, afirmou.
O professor destaca que o litoral catarinense é uma zona de transição dinâmica entre o mar e a terra, que precisa de espaço para absorver os impactos naturais — algo que vem sendo perdido com a ocupação irregular.
Gestão costeira e ocupação urbana equivocada
Já Paulo Horta, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), relaciona a atual crise à falta de planejamento e à ocupação indevida das faixas costeiras.
“Vivemos praias que passam fome. Elas foram privadas dos sedimentos que as alimentavam, por causa da urbanização, mineração e barragens. Isso reduz a chegada de areia e compromete o equilíbrio do sistema costeiro”, explica.
Estragos e prejuízos
Em Itapema, a ressaca das últimas semanas causou alagamentos e destruição em quiosques, calçadões e passeios públicos — principalmente nas orlas da Meia Praia, Ilhota e Centro.
A Defesa Civil constatou afundamentos e deslizamentos, levando à interdição de acessos às praias. A situação ocorre a dois meses da temporada de verão, quando o fluxo de turistas na região aumenta consideravelmente.
Florianópolis e o avanço do mar
Na capital, o avanço das ondas destruiu parte da faixa de areia recém-reconstruída nos Ingleses, uma das praias mais visitadas da Ilha de Santa Catarina.
A Prefeitura de Florianópolis informou que está avaliando decretar emergência e acionou equipes para monitorar as áreas mais afetadas.
Entenda o que causa o problema
Lua cheia: intensifica a maré, elevando o nível da água.
Vento sul: empurra o mar em direção à costa catarinense.
Ondas acima de 1,5 metro: geram ressacas e erosão.
Mudanças climáticas: aumentam a frequência e intensidade dos eventos.
Urbanização: ocupa áreas que antes funcionavam como barreiras naturais.

