Após dois dias de protestos que paralisaram os trabalhos da Câmara dos Deputados, o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), negou nesta quinta-feira (7) que tenha negociado a votação de projetos com a oposição em troca da desocupação do plenário. Ele também prometeu tomar providências contra os parlamentares que participaram da obstrução.
A manifestação foi liderada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, que protestavam contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de decretar sua prisão domiciliar. Durante quase 48 horas, deputados ocuparam a Mesa Diretora da Câmara, travando as sessões deliberativas e pressionando pela análise de pautas como a anistia aos condenados pelo 8 de Janeiro e o fim do foro privilegiado.
“A presidência da Câmara é inegociável”, diz Motta
Em entrevista coletiva nesta quinta, Hugo Motta negou qualquer acordo político para reabrir os trabalhos:
“A presidência da Câmara é inegociável. Quero que isso fique bem claro. As matérias que estão saindo sobre negociação para retomada dos trabalhos não têm fundamento. O presidente da Câmara não negocia suas prerrogativas, nem com a oposição, nem com o governo, nem com absolutamente ninguém.”
Na noite anterior, ele conseguiu retomar o funcionamento da Casa após reuniões com líderes da base aliada e da oposição. Mesmo assim, parlamentares deixaram o plenário alegando que o presidente teria se comprometido com parte da pauta reivindicada.
Ocupação e tensão no plenário
As cenas transmitidas ao vivo na quarta-feira (6) mostraram momentos de tensão. Hugo Motta foi impedido de assumir a cadeira da Presidência por aliados de Bolsonaro, como o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), e só conseguiu se sentar após escolta de colegas.
“Projetos pessoais e eleitorais não podem estar acima do que é maior que todos nós”, discursou Motta ao retomar o comando da sessão.
Ele também classificou a solução como a “menos traumática” para permitir que a Câmara voltasse à normalidade.
Câmara pode aplicar punições
Ainda nesta quinta, Motta informou que irá analisar possíveis medidas disciplinares contra os deputados envolvidos no bloqueio das atividades legislativas. Um comunicado da Secretaria-Geral da Mesa foi enviado a gabinetes alertando que atos para impedir os trabalhos poderão resultar em suspensão imediata do mandato.
A paralisação também afetou o Senado Federal, onde ações semelhantes ocorreram. Os presidentes das duas Casas chegaram a cancelar reuniões durante o protesto.
Motta reconheceu a influência do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) nas negociações para conter a crise, chamando-o de “amigo” e considerando “natural” sua participação.